A suspeita de que a execução de três policiais, na semana passada, tenha sido
ordenada de dentro de um presídio trouxe à tona uma discussão antiga: por
que ainda não foram instalados os bloqueadores de telefonia nas unidades
prisionais do Ceará?
A Justiça já determinou a implantação desses
equipamentos, mas até agora nada foi feito.
Enquanto isso, os crimes continuam sendo
orquestrados dentro e fora das unidades.
Em 2016, 26 policiais foram mortos no Ceará,
segundo o Anuário Brasileiro de Segurança
Pública. No ano passado, foram 25 agentes. Este
ano já são oito, incluindo os três policiais mortos
na Vila Manoel Sátiro na última quinta-feira (23).
Existe uma hipótese de que a ordem para matar policiais na semana passada
tenha partido de dentro de um presídio, embora não se tenha ainda essa
confirmação.
No mês passado, uma série de ataques a ônibus e prédios públicos
também teria sido determinada direto da prisão após uma ação da polícia civil,
que deixou mortos três homens acusados de crimes contra instituições financeiras.
Ainda na semana passada, a TV Jangadeiro mostrou que a maior chacina da
história do Ceará nasceu dentro do sistema prisional. Noé de Paula Moreira, o
Gripe Suína, é apontado pelo Ministério Público como idealizador da chacina,
mesmo já estando preso quando o crime ocorreu.
Entre os sete mandantes denunciados, dois homens também estavam presos.
Deijair de Sousa Silva, o líder da facção criminosa, estava solto à época da
chacina. Mas, em 2013, foi detido por tráfico
de drogas e conseguiu sair com
uma liminar de soltura supostamente comprada. O alvará teria sido negociado
por celular dentro do presídio.
A TV Jangadeiro teve acesso ao conteúdo de uma interceptação telefônica a
respeito da negociação, em julho de 2013, entre um advogado e um outro
acusado beneficiado
com a liminar:
O preso pergunta se seria naquele dia ou no dia seguinte, numa possível
referência à data em que seria beneficiado
com uma decisão judicial. O
advogado então responde que seria no dia seguinte. Os dois passam a tratar
sobre valores. O advogado diz que ficou
de entregar o pedido feito e os
negócios, papel e dinheiro. O preso então confirma
que o negócio ficou
fechado
em 15, número que – segundo a investigação – faz referência ao valor de R$ 150
mil. E o advogado confirma
que sim.
Desde que começou a se discutir sobre bloqueadores de telefonia nos presídios
do Ceará, criminosos atuam com atos de represália ao estado, como um carrobomba
deixado ao lado do prédio da Assembleia Legislativa do Ceará, em 2016,
quando a Casa aprovou uma lei proibindo as operadoras de fornecer sinal de
telefonia em unidades prisionais Essa lei foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal. Em 2 de março deste ano,
a justiça determinou que, em 180 dias, o Estado implantasse o bloqueio de sinal
de celular em presídios. O prazo termina em setembro. O governador diz que
espera que a lei seja votada no Congresso Nacional.
Para o advogado Walmir Medeiros, que é oficial
da reserva do Exército, o
bloqueio de celulares em presídios é fundamental para o controle do crime
organizado e pode ter auxílio das forças armadas. Além do bloqueador de
telefonia, o presidente do Conselho Penitenciário, Cláudio Justa, arfima
que é
preciso voltar a atenção para a entrada de celulares nas prisões e para o
bloqueio de sinal de internet.
Tribuna do Ceará
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