A frase acima é do Bichat e resume bem a
história. Veja, em setembro, o Cariri assiste à flora
dos ipês amarelos. Os dias ficam
mais claros,
o calor aumenta. Em setembro os dias de sol
coincidem com os dados tristes que apontam o
aumento no índice de suicídios na região.
O problema é grave e tem grandes proporções.
De acordo com dados da Organização Mundial
de Saúde, estima-se que no Brasil, por dia, em
média 32 pessoas tirem a própria vida, sendo o suicídio a segunda maior causa
de morte entre jovens de 15 a 29 anos e a principal entre mulheres dos 15 aos 19.
A Organização Mundial de Saúde também estima que em um ano, no mundo,
cerca de 800 mil pessoas tiraram a própria vida, sendo o número de óbitos
auto provocados enormemente superior ao número de homicídios que
corresponde a cerca de 470 mil mortes. Não é à toa que as campanhas de
prevenção e enfrentamento têm sido ampliadas.
Mas quais são as causas de números tão alarmantes? A princípio devemos
considerar que a decisão de atentar contra a própria vida está diretamente
ligada ao sofrimento psíquico e embora pareça individual, tem caráter social.
A forma de vida contemporânea é geradora de frustração e sofrimento, afinal
de contas além da ampliação da cobrança por sucesso e pela felicidade pregada
nas redes sociais, vivemos um tempo de crise e de alargamento da
desigualdade social.
Os jovens acabam sendo alvos imediatos, cobrados em relação aos estudos, às
expectativas quanto ao mercado de trabalho, às normas estéticas e padrões de
consumo, sendo bombardeados intermitentemente pela sensação de que
nunca estão à altura do que a sociedade impõe como meta.
Dessa forma, o futuro parece obscuro e a morte pode parecer a única forma de
cessar o sofrimento. É muito provável que tenhamos por perto alguém que está
sofrendo ou que sejamos nós mesmos a sofrer. Por isso, precisamos pensar
juntos em formas de acolher quem sofre, dar lugar à dor e prevenir o suicídio.
Não tratar o assunto como tabu é muito importante, uma vez que não falar
sobre o que está acontecendo não é uma forma de evitar o sofrimento. Falar
sobre a dor e seus motivos é fundamental, assim como é imprescindível
também estar dispostos a ouvir quem precisa de ajuda.
Outro ponto é o suporte qualificado,
profissional.
O encaminhamento a
profissionais
da Psicologia ou Psiquiatria certamente auxiliará e provavelmente
mudará o rumo da história.
Se as causas do sofrimento têm bases no contexto social, é possível encontrar
novas formas para lidar com demandas, novas formas de resistir e ressignificar.
Em setembro, os ipês enchem o Cariri com seu amarelo vibrante e certamente
podemos acompanhar a beleza ao nosso redor. Estejamos atentos a quem está
ao nosso lado, saibamos falar e ouvir, procuremos ajuda.
Em tempos difíceis, todo gesto de cuidado e empatia é necessário. Enquanto há
vida, há possibilidade! A vida é potente e capaz de resistir à morte.
Leda Mendes Gimbo, Psicóloga
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