Estima-se que 5 milhões de mortes por ano em
países de média e baixa renda sejam resultado
de atendimento médico precário, de acordo com
o primeiro estudo para quantificar
o impacto de
sistemas de saúde de má qualidade em todo o
mundo. O número ultrapassa as mortes por falta
de acesso aos sistemas de saúde (3,6 milhões).
Os resultados foram publicados pelo jornal
científico
"The Lancet". Ela foi conduzida pela
Comissão de Saúde Global de Alta Qualidade, um projeto do próprio jornal
científico
que tem duração prevista de dois anos. Financiada pela Fundação Bill
e Melina Gates, ela reúne 30 acadêmicos, formuladores de políticas e
especialistas em sistemas de saúde de 18 países que estudaram como medir e
melhorar a qualidade dos sistemas de saúde em todo o mundo.
Embora muitos dos países de baixa e média renda tenham feito progressos
significativos
na melhoria do acesso aos serviços de saúde, o estudo mostra que
o atendimento precário no sistema de saúde é agora responsável por um
número maior de mortes do que a falta de acesso.
Falta de respeito, consultas rápidas e falhas, e preconceito estão entre
principais problemas listados pelos pesquisadores.
Estima-se que o número total de mortes por cuidados de baixa qualidade por
ano seja cinco vezes maior do que as mortes globais anuais por HIV/AIDS (cerca
de um milhão) e mais de três vezes maior que as mortes por diabetes (1,4
milhão).
"O cuidado de qualidade não deve ser um privilégio da elite ou uma aspiração
para um futuro distante. Deve ser o DNA de todos os sistemas de saúde", disse
a presidente da Comissão, Dra. Margaret E Kruk, da Universidade de Harvard.
"O direito humano à saúde não tem sentido sem um atendimento de boa
qualidade. Sistemas de saúde de alta qualidade colocam as pessoas em
primeiro lugar. Elas geram saúde, conquistam a confiança
do público e podem
se adaptar quando as necessidades de saúde mudam. Os países saberão que
estão a caminho de sistemas de saúde de alta qualidade quando os
profissionais
de saúde e os formuladores de políticas escolhem receber
cuidados de saúde em suas próprias instituições públicas."
O Brasil neste cenário
Segundo a estimativa do estudo, no Brasil, 153 mil mortes por ano sejam
causadas pelo atendimento de má qualidade e 51 mil por falta de acesso a
atendimento de saúde.
Na Índia, estima-se que 1,6 milhões de mortes por ano sejam por causa do
atendimento de má qualidade (e mais 838 mil mortes devido ao acesso
insuficiente
ao atendimento); na China, 630 mil mortes por ano foram devidas a
cuidados de má qualidade (e 653 mil mortes devido a acesso precário). Na
Nigéria, 123 mil mortes por ano foram devidas a cuidados de má qualidade e 253
mil devido a acesso insuficiente.
Estes são valores conservadores após a subtração de casos de doença que
deveriam ter sido evitados por fortes medidas de saúde pública.
"O impacto de cuidados de má qualidade vai muito além da mortalidade, mas
pode levar a sofrimento desnecessário, sintomas persistentes, perda de função
e falta de confiança
no sistema de saúde. Outros efeitos colaterais são recursos
desperdiçados e gastos catastróficos
com a saúde. Dado as nossas descobertas,
não é de surpreender que apenas um quarto das pessoas em países de baixa e
média renda acreditem que seus sistemas de saúde funcionam bem",
acrescenta Dr. Kruk.
Os impactos do atendimento precário
A Comissão encontrou problemas sistemáticos na qualidade do atendimento
médico em vários países, em uma variedade de condições de saúde e nos
cuidados primários e hospitalares. Dentre os problemas encontrados destacam se:
- Aproximadamente 1 milhão de mortes por doenças neonatais e tuberculose
ocorreram em pessoas que usaram o sistema de saúde, mas receberam
cuidados precários.
- A baixa qualidade é um grande fator de mortalidade para os serviços de saúde
em todas as condições nos países periféricos, incluindo 84% das mortes por
doenças cardiovasculares, 81% das doenças evitáveis por vacinação, 61% das
condições neonatais e metade das lesões maternas, acidentes em estrada,
tuberculose, HIV e outras mortes por doenças infecciosas.
- O acesso insuficiente
aos cuidados foi um contribuinte proporcionalmente
maior para as mortes por câncer (89%), condições mentais e neurológicas (85%)
e condições respiratórias crônicas (76%), destacando a necessidade de
aumentar o acesso a essas condições juntamente com a melhoria da qualidade.
- Dados de mais de 81 mil consultas em 18 países descobriram que, em média,
mães e crianças recebem menos da metade das ações clínicas recomendadas
em uma visita típica, incluindo falhas no check-up no pós-parto, manejo
incorreto da diarreia ou tuberculose e falhas ao monitorar a pressão arterial
durante o trabalho de parto.
- Um terço (34%) das pessoas em países de baixa e média renda relatam experiência ruim de usuários, citando falta de respeito, longos tempos de
espera e consultas curtas. Da mesma forma, a confiança
nos sistemas de saúde
são baixas.
- O atendimento de baixa qualidade é mais comum entre os vulneráveis da
sociedade. As mulheres mais ricas que recebem cuidados pré-natais têm quatro
vezes mais probabilidade de relatar medições de pressão arterial e exames de
urina e sangue em comparação com as mulheres mais pobres; mães
adolescentes são menos propensas a receber cuidados baseados em
evidências; e as crianças de famílias mais ricas são mais propensas a receber
antibióticos.
- Pessoas com condições de saúde estigmatizadas, como HIV/AIDS, saúde
mental e transtornos de abuso de substâncias, bem como outros grupos
vulneráveis, como refugiados, prisioneiros e migrantes, são menos propensos a
receber cuidados de alta qualidade.
Fonte: G1
0 Comentários