Quando a comerciante Cícera Alves abriu o portão do mercantil
"Ponto da Economia", no Centro de Milagres na manhã de sexta feira
(7), percebeu que a televisão Toshiba de 42 polegadas
tinha uma marca de bala que atravessava a tela, rachando o
visor e inutilizando o aparelho.
Ela já estava assustada com que havia acontecido em frente ao
estabelecimento que montou há dois anos. Assaltantes e reféns
morreram praticamente na sua calçada na rua Esmeralda da
Silva, durante confronto com a polícia durante a madrugada
Cícera morou em São Paulo por muitos anos, já foi assaltada
pelo menos cinco vezes na capital paulista e conta que nunca
vivenciou uma "cena de guerra" como aquela. Apesar de não
estar trabalhando no momento da ação policial, viu vestígios da
tragédia nas primeiras horas da manhã, ao chegar no mercantil.
"Uma amiga que mora por aqui no Centro me disse que ouvia
uma mulher gritando, que não atirassem e que mesmo assim os
sons de armas disparando eram altos, sem parar", contou a comerciante.
Na Copa do Mundo de 2018, Cícera juntou algum dinheiro e, na
mesma rua onde trabalha, foi até a loja e eletrodomésticos
Macavi e comprou à vista R$ 1.500 a televisão de LED
Ela e os amigos assistiram todos os jogos do torneio ali mesmo
na calçada, onde costumam ficar
até às 21 horas. "Aqui é
tranquilo, não tem assalto". Ela diz que volta pra casa se
bicicleta todas as noites e nunca se sentiu insegura.
Apesar de lamentar as mortes e a tragédia com a qual a cidade
terá de lidar por muitos anos, Cícera diz também estar
descontente por ter perdido a televisão. Ainda pensou em
comprar uma peça nova e trocar apenas o visor danificado,
mas
os amigos a convenceram de que não valeria o dinheiro gasto.
Como última esperança, vai nesta segunda (10) até a delegacia
de polícia registrar Boletim de Ocorrência. Quer que o estado
pague pela televisão porque acredita que as balas partiram dos
policiais. Este, inclusive, é um posicionamento comum entre os
moradores.
Enquanto não há reembolso, ela deixou o aparelho no mesmo
lugar, pendurado bem na entrada do pequeno mercado como
uma lembrança do que aconteceu. Ao redor da tela, o assunto
ainda é o mesmo, e o medo parece ainda pairar na pequena
cidade.
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Fonte Miséria
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