Após manifestar posição contrária ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante missa celebrada neste domingo, 4, o padre Lino Allegri, 82, da Paróquia da Paz, em Fortaleza, foi hostilizado por um grupo de fiéis apoiadores do atual presidente. Insatisfeitas com as declarações do sacerdote — que durante a homilia criticou as mais de 500 mil mortes por Covid-19 no Brasil —, cerca de oito pessoas entraram sem autorização na sacristia e o repreenderam pela sua fala. O fato ocorreu minutos após a celebração da missa, quando a maioria dos fiéis já havia deixado o local.
Em entrevista a reportagem, padre Lino relatou que o grupo era formado por sete mulheres e um homem. Segundo o sacerdote, eles teriam o abordado com os ânimos exaltados e em tom de ameaça. “Eles entraram na sacristia já bastante alterados, com tom de voz agressivo, me atacando. Disseram que não estavam de acordo com o que eu tinha falado em relação ao presidente da república, que ele é um cristão e um bom presidente, e que eu deveria rezar por ele”, contou.
O religioso ainda revelou ter sido alvo de declarações xenofóbicas proferidas por um dos integrantes do grupo, que fez menção à sua nacionalidade. “O homem que estava entre as mulheres olhou para mim e disse: 'Pode voltar para a sua Itália, que aqui nós não precisamos do senhor'”, afirmou o sacerdote. Após cerca de dez minutos de discussão, o grupo resolveu deixar o local depois de intervenção dos ministros da eucaristia, que auxiliaram o padre na celebração.Lino acredita que o ato foi uma “tentativa de intimidação”, ante à reflexão que ele havia provocado durante o sermão. “No evangelho, eu recordei que toda procissão de fé tem que ser acompanhada da procissão de amor a Jesus Cristo. Só as palavras não resolvem. E aí, durante a homilia, eu fiz uma relação, disse o seguinte: 'Nós estamos passando por este momento em que já tivemos mais de meio milhão de mortos, e a pessoa que está no cargo máximo do País se diz cristão, mas não prova ser'”, relembrou o sacerdote.
“Vocês viram que na semana passada o presidente foi a uma celebração comungar. Eu acho que ele comungou a sua própria condenação. Porque há uma passagem na Bíblia que fala que quem comer o pão ou beber o cálice do Senhor de maneira indigna, come e bebe para sua própria condenação. E ele [Bolsonaro] é indigno no sentido de não existir amor ao próximo”, disse o Padre durante a missa.
Segundo Lino, as reações à sua fala são reflexo do clima de polarização política que o País atravessa atualmente. “Essas atitudes violentas decorrem de tudo que estamos vivendo agora sob o ponto de vista político. As pessoas têm até o direito de não concordarem com o que eu falo, mas não podem atacar, nem a mim e nem a quem discorde delas”, declarou o padre, acrescentando ainda que o episódio deste domingo não foi uma ação isolada.
“Nesta mesma igreja, por pelo menos quatro vezes já aconteceu algo parecido. Sempre um grupo de pessoas, a maioria mulheres, que vem questionar de maneira bastante violenta. Isso se tornou mais recorrente sobretudo depois das eleições de 2018, mas desta vez foi algo mais virulento”, disse. Apesar de ter sido orientado pelos auxiliares a prestar Boletim de Ocorrência (B.O) sobre o caso, o padre preferiu não levar o caso à Justiça.
Mesmo sem a notificação formal, a Polícia Civil informou por meio de nota enviada pela reportagem que “as informações sobre o caso estão sendo averiguadas pelo 2º Distrito Policial, no bairro Aldeota - Área Integrada de Segurança 1 (AIS 1)”. O órgão confirma que, até o momento, nenhum B.O foi registrado e ressalta que “para dar continuidade ao trabalho policial, é imprescindível que a vítima registre o caso''.
Fonte: OPovo.
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